quarta-feira, 14 de maio de 2008

O grelo falante



Francisco Bento andava por um jardim público no centro de uma capital brasileira, quando escutou uma voz suave e excitante chegar até seus ouvidos:

-"Chico, seu gostosão, venha cá me completar".

Ele olhou para trás, mas continuou andando. A voz insistiu:

-"Chiquinho, seu maravilhoso, vem cá, meu bem!"

Francisco ficou estupefato. Ainda mais que ele tinha acabado de chegar do interior do país e não conhecia ninguém ali, além dos seus quatro filhos e a mocréia da sua mulher, que há muitas décadas tinha deixado de falar coisas do gênero, se é que algum dia falou. Super desconfiado que estava, Chico começou a olhar pra todos os lados, mas não viu ninguém. De repente, a voz, outra vez:

-"Chico seu gostoso. Eu sei que sua mulher, além de feia, está negando fogo e, por isto, eu quero realizar pelo menos três desejos seus. Vamos conversar, mogim."

Pombas! Mogim era tratamento carinhosíssimo para "amorzinho" e aquele carinho com aquela voz descaralhante o deixou de pau duro. Começou a ficar meio alucinado e a adentrar as alamedas existentes na praça, para ver se encontrava alguém. Fuçou, fuçou, fuçou até que num cantinho, encostada numa árvore, estava uma garrafa. Uma garrafa completamente diferente de todas as que ele já havia visto. Era azul e tinha um design que lembrava os palácios árabes das mil e uma noites. Chegou perto, ameaçou pegá-la e ela faiscou. Ele deu um passo atrás e da garrafa saiu a voz:

-"Se for me pegar, pegue-me com carinho e esfregue-me com carinho para que eu me sinta confiante nas suas mãos".

Chico ficou com os olhos arregalados como se tivesse ingerido um quilo de cocaína de uma vez só. Mas a curiosidade suplantava qualquer medo naquele momento e ele aproximou-se da garrafa, a pegou delicadamente nas mãos e tentou enxergar pelo vidro o que havia dentro dela. A voz esbravejou:

-"O gostosão! Estou perdendo a paciência contigo. Eu já disse para você esfregar-me delicadamente nas suas mãos para que eu possa me manifestar do jeito que você deseja. Depois de esfregar-me, você pode retirar a tampa e olhar para dentro da garrafa, meu amor".

A garrafa estava morna e intumescida, do jeito que o povo gosta. Ele, então, começou a esfregá-la delicadamente e lá de dentro da garrafa saíam gemidos excitantíssimos que começaram a fazer o Chico definitivamente perder a cabeça. Então, ele aproximou a garrafa da sua genitália onde começou a friccioná-la com força. "Ai, ai ai! Gemia a garrafa, parecendo estar quase indo ao orgasmo. Súbito, tanto Chico como a garrafa silenciaram, como se tivessem saciado suas vontades. Aí, a voz falou:

-"Chico, agora me abra, por favor, meu amor".

Francisco, ainda trêmulo e com pouca força, empenhou-se em retirar a tampa que lacrava a boca da botelha. Suou, suou até que conseguiu. Quando acabou de destampá-la, de dentro dela saiu uma fumaça rósea, que tinha o cheiro característico das peludas, e começou a materializar-se na sua frente. Chico ao ver a materialização, arrepiou até os cabelos da orelha. O que ele via era nada mais nada menos do que uma vagina completa, com clitóris e tudo mais, além de duas perninhas que a mantinham de pé.

-"Meu Deus, o que é isso!" - exclamou Chico apavorado e ameaçando largar a garrafa e sair correndo. Do clitóris é que saía a voz, que mais uma vez, ao ver o Chico perturbado, resolveu se manifestar.

-"Calma, Chico, calma. Eu sou uma gênia que foi presa nessa garrafa há dois mil anos. Você é a primeira pessoa com quem falo depois desse tempo todo. Senti confiança e sex appeal em você e, por isto, resolvi te conquistar. Como prova da minha gratidão e por me permitir o primeiro orgasmo depois desse tempo todo, eu vou te conceder três desejos. Pode pedir, Chico, que eu realizo".

-"Porra, essa história de gênio e de três pedidos é muito antiga. Tem alguma coisa estranha aí" - pensou Chico, totalmente desconfiado.

-"Vamos lá, Chicão! Se você não acredita, experimente fazer um primeiro pedido".

Jogando todas as desconfianças pro lado, ainda sob o efeito letárgico da boa gozada que tinha dado, resolveu tentar para ver no que é que dava.

-"Bom, já que o negócio é esse, como primeiro pedido, vou querer......muito dinheiro!"

Acabou de falar e de dentro da vágina-gênia começaram a sair ininterruptamente notas de 50 e 100 reais que não acabavam mais. Chico, completamente desorientado, começou a catar o dinheiro que se espalhava pelo chão com os olhos brilhando como o de uma criança que pega uma pipa voada.

-"Pronto, Chico. Agora vou parar. Acho que já tem bastante dinheiro aí pra você, meu bem. Você já sabe qual é o seu segundo desejo?"

Chico babava pegando o dinheiro e jogando numa sacola vazia de lixo que estava por perto. Ele não acreditava no que estava acontecendo.

-"Segundo desejo? Poxa, dona xota, eu acho que já tá muito bom, mas se você me diz que eu posso continuar pedindo, eu vou pedir. Como segundo desejo, eu vou pedir para que minha esposa e meus filhos tenham muita riqueza material, mas que passem a morar a dez mil quilômetros daqui, tendo uma vida tranqüila e abastada".

-"Que isso, Chico?! Você quer ficar longe da sua família?!" -"Quero, dona ximbica. Eu já tô com bastante dinheiro, não quero nenhum mal pra eles, mas quero desfrutar a vida longe deles. Ainda mais depois dessa nossa relação sexual in vitro, quando vi que há muita coisa que fazer e que na presença deles eu não conseguiria".

A gênia-xota ouviu as explicações e julgou razoável a sua solicitação. Deu uma contraída no pequeno e no grande lábio e a família do Chico sumiu do Brasil e apareceu em Amsterdã, Holanda, morando num palacete nas cercanias do centro daquela cidade, cheios de serviçais e bens materias.

-"Pronto, benzinho. Seu segundo pedido já foi atendido. Agora, para me libertar de vez, diga-me o seu terceiro e último pedido".

Francisco baixou a cabeça, fingiu pensar profundamente, passou uns dez minutos em silêncio e depois se manifestou:

-"Olha, o meu pedido vai parecer estranho, mas será muito importante para mim. O que eu vou querer vai ser uma gaiola toda em ouro, com pouca visibilidade do seu interior, mas com um orifício de mais ou menos 7 centímetros à meia altura e uma portinhola com fechadura, para o caso de eu querer abrir e mexer dentro dela".

-"Mas chico! Realmente é muito esquisito esse seu pedido! O que se passa, meu amor? Eu não sabia que você gostava tanto de passarinhos. Veja bem: esse terá o seu último pedido. Depois, não poderei fazer mais nada por você!"

-"Por favor, dona buceta, atenda o meu pedido que eu sei o que eu quero".

-"Bom, se é assim, é pra já!"

Disse isto e imediatamente apareceu uma gaiola linda na frente do Chico, de ouro puro, toda desenhada, com pouca visibilidade e com um buraco de mais ou menos 7 centímetros de diâmetro à meia altura.

-"Pronto, Chico. Agora que atendi esse seu último pedido, com licença que eu vou à luta. Bom te vê e hasta la vista, baby".

O grelo falante disse isto e já ia se retirando, quando Chico, num golpe ultra rápido, encaçapou a vulva na gaiola e trancou a portinhola para que ela não escapasse.

-"Socorro! Socorro! Chico, não faz isso comigo! Depois de tudo que te dei, você não podia fazer isto comigo!"

Francisco Bento, cheio de dinheiro nos bolsos e no saco, botou o olho pelo orifício que havia na gaiola e falou.

- "Meu grande amor: depois de tudo que você me fez é que eu não poderia te perder jamais. Muito mais do que o dinheiro, foi o prazer enorme, coisa que a muito não tinha com a minha patroa. Este buraco por onde te olho será por onde também te comerei e sei que você, no fundo no fundo, mas bem lá no fundo mesmo, estava querendo que eu fizesse isto. Um dia você não vai querer mais ir embora e, nesse dia, sairá da gaiola para ficar definitivamente ao meu lado".

De dentro da gaiola, nada se ouviu. Dizem que passarinho na gaiola lá no fundo é mais feliz. Não sei se no caso de vaginas essa máxima também se aplica, mas o fato é que, todo dia, quando Chico punha o seu cacete naquele buraco de 7 centímetros, escutavam-se gemidos de todos os lados e depois se tinha o silêncio e a paz das guerras conjugais.